A primeira ideia que tive assim que terminei este livro foi “deveria haver uma lei qualquer que proibisse alguém tão novo escrever com tanto talento”. Ponto.
Não li todas as obras galardoada com o prémio Leya (que são, se não me engano, seis, já contando com “O Meu Irmão”), mas esta é sem dúvida uma das melhores obras que já li. Aliás, é um dos melhores livros que já li nestes últimos tempos (e sim, eu sei, não tenho lido tanto quanto gostaria…).
Afonso Reis Cabral apresenta-nos uma escrita extremamente sóbria, madura e majestosa para contar a história de um professor universitário, divorciado, desencontrado com a vida, e quem procura a derradeira aproximação com o seu irmão Miguel que nasceu com síndrome de Down. Trata-se de uma aproximação não apenas dificultada pela deficiência genética, mas a qual também se associa uma ausência de 20 anos e uma fixação forte do Miguel pela Luciana, uma deficiente mental fruto de uma violação. Tojal, uma pequena aldeia perto de Arouca, é o sítio onde o irmão de Miguel procura então reconquistar o seu amor fraterno. É durante a estadia de ambos que conhecemos toda a história destes irmãos desencontrados, e como o destino, de uma forma algo inesperada, os levou a procura de uma catarse numa localidade recôndita do interior.
A cada capítulo, Afonso Cabral desvenda de uma forma soberba toda a história destes irmãos, os sonhos, as conquistas, os desaires que os acabariam por os conduzir até Tojal. Ao mesmo tempo, o tema da deficiência de Miguel é tratado com seriedade, confrontando o leitor com uma realidade com implicações profundas naqueles que têm que conviver diariamente com a síndrome de Down.
Sem qualquer dúvida, um autor a seguir seriamente.
Este foi um livro que despertou a minha curiosidade devido ao seu título. Já tinha ouvido referências à série televisiva “House of Cards”, distribuída pela HBO, assim como já tinha também ouvido que o Kevin Spacey tem um desempenho excelente nesta série sobre os meandros da política norte-americana. Sobre este programa de televisão, pouco mais nada sei.
Foi no posfácio deste livro que fiquei ainda a saber que o “House of Cards” já tinha sido adaptado numa mini-série de 4 episódios pela BBC, que foi para o ar em 1990. Mais ainda, este livro, publicado pela Jacarandá, é na verdade uma edição revista pelo autor que chega às estantes no seguimento do sucesso da série norte-americana, e faz parte de uma trilogia que gira em torno de Frank Urquhart, um verdadeiro “animal político”.
“House of Cards” conta a história de como um político influente, ganancioso e ferido no seu orgulho resolve virar-se com aqueles que o antagonizaram, envolvendo-se então num jogo de mentiras, dissimulações, traições e chantagens, que começa com um golpe palaciano que derruba o primeiro-ministro do Reino Unido, e prossegue com a eliminação de todos os adversários que, tal como Frank, pretendem chegar ao topo da máquina do poder britânico.
De uma forma vertiginosa, Michael Dobbs põe a nu os jogos de poder em terras da sua majestade, onde não existem amigos mas apenas aliados, alianças estas que ora são construídas por ambição e chantagem, ou se desfazem unilateralmente, ao sabor dos interesses mais ousados de uma das partes.
Tal como referi, este “House of Cards” faz parte de uma trilogia agora revista pelo autor, mas apenas este primeiro livro está traduzido para português, desconhecendo se a edição originalmente publicada foi alguma vez traduzida. A curiosidade em saber como o primeiro-ministro Frank Urquhart se safa lá me fará correr atrás dos volumes em inglês, não que haja qualquer inconveniente nisso…
This book was literally picked by impulse: during my last visit to the library, this "The Hit" was on the shelf of the featured books. On the cover, the marketing messages "# 1 New York Times" and "The thriller of the year - The Times" fulfilled their mission and captured my attention. After reading the synopsis, I thought "Well, I have nothing to lose, and a thriller is usually a nice summer reading. Let's have it!"
This is a book of easy reading, that quickly catches the reader's attention. However, the story becomes somewhat less interesting as we move throughout the book. At first, it begins with quite pace, but the author seems to have some difficulties in keeping the rhythm as the pages pile up, with a story that almost crumbles on itself and which becomes quite predictable at the end.
Honestly, the initial good impression on the book got blurred over time. Yet, this is still a - let's say it - a nice summer book: to read, to have a good time with it and to let it go.
Já la vai algum tempo desde a última vez que li um livro de Dan Brown mas, ao começar a ler este "Inferno", rapidamente são identificados os ingredientes com os quais o autor nos tem habituado: uma morte no início da história, um mistério enigmático que vai parar às mãos de Robert Langdon, o qual terá que ser desvendado o mais rapidamente possível com recurso as seus conhecimentos de simbolismo, arte e história (sem esquecer a sua memória fotográfica), e uma escrita cinematográfica, dividida ao longo de uma centena de capítulos que prendem o leitor com alguma facilidade.
A diferença, não muito substancial, em relação às história anteriores de Langdon é que, desta vez, no início do livro, a personagem já se encontra no meio dos acontecimentos, pelo que nos deparamos com uma narrativa recheada de 'flashbacks' q.b., para além da já habitual grande quantidade de informação resultante da pesquisa realizada para a produção deste thriller (no entanto, no que diz respeito a isto, este livro me pareceu mais comedido, mas isto pode ser uma impressão minha. Como disse, já lá vai algum tempo desde que li o último livro de Dan Brown). Acresce a tudo isto, toda uma cortina de fumo e jogos de espelhos que procuram ludibriar o leitor, induzindo-o em erro, até o 'plot twist' final, em que percebemos como tínhamos até então sido enganados.
Se o desenrolar da história se mostrou interessante, o final foi algo decepcionante. "Que conveniente" foi aquilo que me ficou quando revelada toda a trama Só por aqui, dificilmente consigo ir para além das 3 estrelas (em cinco). E mais não digo, para evitar spoilers...
Para quem gosta do género, enquanto descansa ao som das ondas do mar, é um livro que recomendo, mas mão esperem demasiado dele.
De entre todos os livros que já li do José Rodrigues dos Santos, e em particular os que dizem respeito à "série" Tomás Noronha, este é, sem dúvida, um dos piores que já me passaram pelas mãos.
Tal como nos livros anteriores, "A Mão do Diabo" é construído sobre um extenso trabalho de pesquisa, desta vez relacionado com a moeda transeuropea e com a crise que a tem abalado desde 2008 após o rebentamento da bolha especulativa nos EUA, e que viria pôr a nu as fragilidades do Euro. É aqui que o livro se torna de facto interessante: quem quiser ter uma ideia mais clara sobre qual o caminho que nos trouxe até aqui, ao ponto de Portugal ter que solicitar ajuda à Comissão Europeia, ao Banco Central Europeu e ao Fundo Monetário Internacional - conjunto a que se convencionou chamar de "troika" - tem neste livro um bom resumo. Está lá tudo: os pressupostos políticos que nos conduziram à criação do Euro, a liberalização dos mercados, o que é o subprime, o porquê deste produto financeiro ter abalado a economia europeia, as crises da Grécia, Portugal, Espanha e Irlanda (não Itália não foi contemplada neste romance), a relutância alemã,... enfim, tudo. Quase que este livro se poderia ter chamado "Tudo o que queira saber sobre a crise do Euro e ainda ninguém lhe contou." Obviamente que podemos questionar a objectividade e imparcialidade do que aqui é explicado, mas penso que, em momento algum, este assunto poderá ser analisado sem que este tipo de pensamentos ocorra. Em todo o caso, este livro é uma espécie de "Seleções do Reader's Digest" sobre a crise da moeda única que acaba por ter algum interesse objectivo.
"Espera aí! Mas isto é um romance ou um livro de economia?!" Já lá vamos... É de facto um romance que decorre de forma muuuuuuuuito lenta: são necessárias quase 200-duzentas-200 páginas para que o enredo comece a ganhar velocidade. Bem, a palavra velocidade é talvez um pouco excessiva. Andamento, vá.
Até aqui, o primeiro terço do livro não passa de um extenso prólogo. Olhando para o livro no todo, este não passa de uma daquelas laranjas de final de estação: secas, sem quase nenhum sumo. Junte-se a isto toda uma panóplia de diálogos tão forçados que chega a irritar, e só não larguei o livro porque o conteúdo informativo acabou por prender-me, porque se fosse pela história...
O final do livro é igualmente sofrível. Vemos toda uma série de conjecturas do autor, e que de certa forma também temos formadas, a serem desfiadas no meio de mais diálogos ocos e demasiado artificiais. Vemos personagens que alegadamente ocupam lugares importantes ou que julgamos detentoras de formação extremamente rica a serem ultrapassados por um professor de História especialista em Línguas Antigas. Nada contra os professores de História, mas a forma como todo ocorre é demasiado irreal e factícia que se torna quase incómodo de ler. Já li ficção científica mas credível do que esta última história do Tomás Noronha.
Em resumo, encontramos o costume: um crime, a personagem a ser chamada para o centro da história, uma "bond girl" e um final (quase) feliz, tudo embrulhado com informações q.b.
Literatura para as tardes de praia em jeito de pastilha elástica.
A apresentação do livro pode iludir o leitor menos atento: apesar de ter o título "O Cavaleiro de Westeros & Outras Histórias", sendo ainda acrescentado bem visível na capa a inscrição "Inclui aventura no mundo de A Guerra dos Tronos", qualquer ligação com o mundo de alta fantasia de George R. R. Martin fica por aqui. O marketing e a fama alcançada por esta série televisiva ditaram que este livro, que na sua edição original tem o título "GRRM: A RRestrospective", fosse apresentado como um produto com fortes ligações ao continente localizado no ocidente do mundo conhecido.
Este livro é na realidade uma colectânea de contos de George R. R. Martin que nos mostra que este autor é muito mais do que apenas "A Guerra dos Tronos". Para além da alta fantasia, GRRM escreveu também ficção científica, horror/terror, e mesmo alguns "híbridos", nas palavras do próprio autor. Não se deixou prender aos estereótipos de um género, explorando o cruzamento de elementos que até "tropeçar numa combinação que explode!»
As várias facetas de GRRM são apresentadas ao longo de um conjunto de 10 contos, cada um antecedido por uma introdução onde o autor nos apresenta o enquadramento e o espírito que está por detrás de cada história.
De entre o elenco de histórias, "O Cavaleiro de Westeros", "Uma Canção para Lya", O Caminho de Cruz e Dragão" (não, não é alta fantasia), "Reis-de-Areia" e "Negócio de Peles" foram as minhas favoritas.
Um bom livro, em particular se se gosta de contos ou "novelettes", e onde podemos ver que GRRM é, de facto, um bom contador de histórias. Uma porta de entrada para o universo de GRRM que pode ser bastante interessante.
Seguem-se agora as Crónicas do Gelo e do Fogo.
Taking into account the current economic crisis in Europe, particularly at the southern countries - which are pejoratively referred to by the acronym PIIGS (Portugal, Ireland, Italy, Greece and Spain) - I consider this is a book of great interest.
The book is quite clear, presenting a historical framework that preceded the Euro, going through the concept of fiat currency and ending with the journey that led to the current economical situation, a chapter the author titled "The Ride to collapse" (the book was written before the request for financial support from Portugal, but there are several clues about the Portuguese and Spanish situation at present).
I understand, however, that there is some Germanic vision in this book mixed with a right wing political reading, but in this type of analysis is impossible to separate political from economic issues,
Even so, it's a book that is worth to read.
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À luz da actual crise económica que assola a Europa, em particular os países do sul - que pejorativamente são designados pela acrónimo PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) - este é um livro que se revela de grande interesse e de leitura, na minha opinião, quase imperativa.
O livro é bastante abrangente, fazendo um enquadramento histórico que antecedeu o Euro, passando pelo conceito de moeda fiduciária e terminando no percurso que levou à actual situação, capítulo que o autor intitulou "A Cavalgada para o Colapso" (o livro foi escrito antes do pedido de apoio financeiro por parte de Portugal, mas já são mostrados vários indícios sobre o caso português e espanhol).
Entendo, no entanto, que existe alguma visão germânica neste livro, à mistura com uma leitura política mais à direita, mas este tipo de análise é impossível de separar de temas económicos, em que política e economia andam de mãos dadas.
Mesmo assim, um livro a ler.